Rasgo uma folha de papel com a mesma vontade que tenho de me
rasgar a minha própria.
Pena que a direção deste rasgar não é aquela que, de cabeça
fria, quero tomar.
Quero emergir desta profundidade que me assola.
Tomar aquilo que me é devido.
Neste momento o mundo parece não fazer sentido.
Vejo o que não quero; ouço o que não acredito.
Mergulho fundo naquilo que não pode ser.
Uma realidade impensável que não quero ver roubada.
Protejo-me e abrigo-me. Procuro um ninho.
Mas que estupidez. Quando mergulhas não há ninhos!
Os ninhos estão nas árvores e disso não há que duvidar.
Nos mergulhos há descidas a pique; há o querer retornar e o
peso para levantar.
Quanto mais tempo mergulho, menos ar possuo.
A inexistência do ar faz o corpo pesar.
E a dificuldade de emergir faz aumentar; entretanto,
aproveito para caminhar.
Vou vendo paisagem e sonhando acordada.
Quando é que o que sonho se tornará realidade?
Como é que vou saber?; só se fosse vidente o poderia dizer.
Tenho ouvido que a culpa é das estrelas - será que também as
posso culpar?
Enquanto culpo e não culpo aproveito para continuar a
mergulhar.
O bom do mergulho é que por muito que grite ninguém fica
incomodado.
Com sorte até desconfia que se trata de um traque.
Não quero que me ouçam; não quero culpar; tudo o que quero é
uma vida – alguém para amar.
Enquanto vai e não vai aproveito para rasgar.
Lutando pela oportunidade de vir a flutuar.
Comentários
Enviar um comentário