É oficial. Todos gostam de
mostrar o melhor de si e omitir o pior. E aqui não há exceções: é transversal a
ambos os sexos, todas as idades e culturas.
Seja uma barriga mais trabalhada –
daqueles que parecem um tanque – a uma mala chiquérrima; uma licenciatura
terminada ou um emprego melhor. Gostamos de mostrar que alcançamos sucesso, que
somos bonitos, que somos bons e quem disser o contrário das duas uma: ou anda a
tentar enganar os outros e a si próprio. As redes sociais têm um papel
primordial nesta história toda. Eu, por exemplo, exibo, à força toda, os meus
cakes – cada um cose com as linhas que tem!
Do outro lado da moeda temos as
coisas que tentamos omitir: uma barriga mais saliente que apertamos ou
encolhemos; um chumbo que não dizemos a ninguém; uma reação descabida que não
conseguimos considerar a frio; uma tristeza camuflada; uns cabelos brancos que
pintamos e tanta coisa mais. Barriga saliente – Check!; mau feitio – Check!; cabelo brancos – Check!. E é melhor não acrescentar mais nada caso
contrário não faço outra coisa por km e km de escrita.
Disseram-me recentemente que é
socialmente aceite o cansaço. O cansaço – esse maldito. Em qualquer situação em
que mostramos um ar mais abatido, uma maior inércia, uma preguiça crónica - o
cansaço é sempre o bode expiatório. Daquelas coisas que ninguém contradiz
porque se está cansado então está tudo justificado.
Dizer que estamos: fartos, tristes,
desmoralizados, enraivecidos, revoltados, deprimidos, o que for, já não é
socialmente aceite.
Há algum tempo atrás andei uns
dias enterrada na trampa. Cruzei-me com uma pessoa que conheço – vejo diariamente
mas que só troco um bom dia e pouco mais – e me perguntou se estava tudo bem: Está com um ar tão abatido!
E lá chamei eu pelo meu bode expiatório:
Não, está tudo bem. É só cansaço, preciso
de descansar.
Obviamente a minha resposta não
poderia ser outra. Até porque muitas vezes acho que estas perguntas vêm
acompanhadas de uma esperança secreta de ouvir isso mesmo: é cansaço. Mas a
questão que me coloco é: se esta questão for colocada por um amigo / familiar
próximo não temos o direito / obrigação de ser sinceros?
No casamento dizemos: …na alegria e na tristeza…
A amizade não deixa de ser um
casamento. A relação com os familiares mais próximos não deixa de ser um
casamento.
Temos de facto legitimidade para
esconder dessas pessoas tão importantes aquilo que de facto se passa?
Oh pá! Eles já têm os seus
problemas. Quero é ajuda-los com os deles não quero sobrecarrega-los com os
meus. Mas nos problemas deles não nos sentimos no direito de saber? Não queremos
ajudar da melhor forma que nos é possível?
Partilhadas: as alegrias
multiplicam-se e as tristezas dividem-se.
Daí a minha dúvida existencial de
hoje: mostras ou não mostras?
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