Cedo comecei a deparar-me com a
obesidade. Antes disso com a minha estrutura/tamanho/altura. O adubo era do
bom, cresci muito cedo demais, na sala de aulas ficava sempre atrás porque era
mais alta que os outros e, por exemplo, na primeira comunhão fiquei em último
lugar da fila das meninas. Tive de lidar com isso!
Refletindo sobre o assunto acho
que a vivência com estes factos, entre outros, fez-me desenvolver esta timidez
crónica de que sofro (atualmente mais controlada), esta cabeça baixa não de
desânimo, mas de vergonha, de tentativa de passar despercebida a qualquer custo.
Quando comecei a engordar tive
umas quantas experiências que me marcaram, sobretudo em nutricionistas que
tentavam levar-me a emagrecer utilizando agressividade. Naturalmente foram
muito mal sucedidas.
Depois comecei a ouvir: quando
ela crescer mais um bocado e começar a pensar em namoricos vai emagrecer!
Não aconteceu! O máximo que
estive foi 2 ou 3 dias em greve de fome porque vi o rapaz por quem estava loucamente
apaixonada (naquele idade as paixões eram todas loucas) a tentar dar um beijo a
outra. Paixões assolapadas dos 14 anos dão nisto! Confiei em alguém a quem
contei isto que achou por bem dizer à minha mãe. A postura da minha mãe
basicamente foi: “Minha menina não estou para isto! Faz favor de comer ou vamos
ter problemas!” Continuei a sofrer pela traição, mas de barriguinha cheia.
Depois os que diziam que ia
emagrecer quando começasse a pensar em namoricos mudaram de discurso: ela ainda
é nova! Quando chegar aos 25 é que se vai preocupar com isso! (Ainda por cima
falavam como se não estivesse presente! É ou não é fantástico?)
Não aconteceu! Volta e meia
pensava: quando é que me vai dar o raio da preocupação de que toda a gente
fala?
Tardou mas veio! Acho que até
poderia nunca vir e por isso sinto-me grata. Por motivos que agora facilmente
idêntico e que culminou com a vergonha de sair da cama correndo o risco de
alguém me ver (inclusive eu própria! porque os espelhos são verdadeiros inimigos).
Podiam dizer e acontecer o que
quisessem, mas este momento foi meu. Não vem nos livros, ninguém adivinharia.
Aconteceu quando teve de acontecer. Acredito que se isto tivesse acontecido aos
25 seria mais fácil, mas as coisas mais difíceis são aquelas a que damos mais
valor. E finalmente tenho o meu momento. O momento de tomar conta de mim e de
finalmente me tratar bem!
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