Pronto,
um dia tinha de vir este assunto à baila. Trata-se de assunto ao qual sou
especialmente sensível. Durante muito tempo lembrei-me de o abordar aqui, mas
acabei por desistir. Agora decidi que era o momento.
“Quem
casa quer casa.” Sempre idealizei a minha vida independente dos pais de ambos,
nunca sequer me surgiu a ideia de continuar a viver em casa dos meus pais ou
dos dele após constituirmos a nossa própria família.
Idealizações
à parte, descobri aqui há dias um texto intitulado “Filhos são do mundo”. Foi inicialmente
atribuída a autoria deste texto a José Saramago, mas depois a fundação fez uma
publicação no portal a negar esta atribuição. Assim, não faço ideia de quem o
escreveu. (Se por acaso o autor cá chegar por favor informe-me que eu atualizo
a informação)
“Devemos criar os filhos para o mundo. Torná-los
autónomos, libertos, até de nossas ordens. A partir de certa idade, só valem
conselhos.
…
Então, filho é um ser que nos emprestaram para um
curso intensivo de como amar alguém além de nós mesmos, de como mudar nossos
piores defeitos para darmos os melhores exemplos e de aprendermos a ter
coragem. Isto mesmo!
Ser pai ou mãe é o maior ato de coragem que alguém
pode ter, porque é se expor a todo tipo de dor, principalmente da incerteza de
estar agindo corretamente e do medo de perder algo tão amado.
Perder? Como? Não é nosso, recordam-se? Foi apenas
um empréstimo!
…”
Concordo com o autor do texto. Tenho pena que alguns pais não consigam agir em conformidade com estas afirmações. Não sou mãe, não sei exatamente os sentimentos que estas situações implicam, mas sou filha, sou nora, e sinto na pele o facto de algumas pessoas acharem que independentemente da vida, da idade, da responsabilidade, da autonomia de opiniões e decisões, podem sempre comandar a vida dos filhos.
Neste
aspeto acho que tenho muito mau feitio. Não suporto que controlem a minha vida
e tentem dar ordens acerca do que deve ser feito na minha vida, na minha casa,
no meu casamento, na minha vida social...
Os
pais/sogros têm sempre uma opinião a dar, sobretudo se lhes for pedido, mas há
um momento na vida dos filhos em que simplesmente é preciso cortar o cordão
umbilical. O núcleo familiar deixa de ser os nossos pais connosco e com os
nossos irmãos e passa a ser o constituído pelo marido e mulher. Como uma nova
célula que se cria.
Vivo
relativamente longe tanto dos meus pais como dos meus sogros e sinto-me
bastante confortável com isso. Não gostava da ideia de me aparecerem em casa
sem avisar, do entrar e sair sem serem convidados, da possibilidade de
intencionalmente ou não controlarem alguns passos da minha vida.
A vida
que escolhi foi criar a minha família juntamente com o meu marido. Não namorei
ou casei com o pai ou mãe dele e apesar de tudo isto fazer parte do pacote há
uma privacidade, uma independência de que não consigo abdicar.
Os meus
pais são e serão sempre os meus pilares. Sei que são as pessoas em quem me
apoiarei independentemente das dificuldades que ainda se atravessarão no meu
caminho. Mas sei igualmente que isso não lhes dá legitimidade para “se meterem”
na minha vida, viverem-na por mim ou comandarem-na quase tanto como eu.
Há coisas
que são fáceis de lidar, outras que nem por isso. Parece-me que se trata de uma
luta contínua, porque para mim, se há coisa pela qual vou sempre lutar, é pelo bem-estar
emocional que esta delimitação de acessos cria.
E é por
isso que digo sogros… ao longe! Tanto os meus como os dele!
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