Em Janeiro, pouco após a minha mãe ter feito uma
cirurgia ao joelho, conheci uma menina chamada Eva no café dos meus pais.
Tal como tantas outras crianças tinha insistido
de tal forma para ser levada à Zezinha para comer meia torradinha e um pingo,
que a mãe lá acabou por ceder e leva-la.
Apesar dos seus cerca de 10 anos (penso que
andará à volta disso), foi a primeira vez que a vi e falei com ela. Com os seus
olhos azuis e cabelo loiro, teve uma forma muito especial de me conhecer... com
o toque das suas mãos conseguiu criar aquela que seria a imagem pela qual me
iria memorizar. Falamos durante algum tempo, fez questão de sentir a textura de
cada uma das coisas que tinha dentro de uma pasta, ficando extremamente
surpreendida com um marcador paralelepípedo. Como recordação daquele tempinho
que passamos juntas ofereci-lhe uma folha com uma textura que considerou
interessante.
Durante a nossa conversa falou-me acerca de um
grande desejo que tinha, uma máquina de escrever em braille. Entretanto soube que estava a decorrer uma iniciativa para
oferecer a máquina à Eva, e por fim soube mesmo da sua oferta (o Facebook tem destas coisas).
Como acho que aconteceria com qualquer pessoa,
esta menina ficou-me marcada na memória e no coração, sobretudo por certos
pormenores da nossa conversa que ainda hoje recordo, para além da
particularidade relativamente ao facto de ser invisual.
Não falei mais com a Eva até ao passado Sábado.
Fui a uma comunhão e na igreja encontrei esta menina especial. Disse-lhe olá e
perguntei-lhe se sabia quem eu era. Aproximou-se de mim e eu disse-lhe baixinho:
- Sou a filha da Zezinha.De seguida ela tocou-me no rosto durante uns 5 segundos e disse:
- És a Sofia!
- Muito bem! Ainda te lembras de mim…
- Quem é a Zezinha?
- A Zezinha é aquela senhora do café onde às vezes vais comer torradas.
- Ah sim! Aquela senhora que teve um problema no joelho e foi operada.
- Exatamente.
- Como é que ela está? O que é que está a fazer agora?
…
Entretanto disse-lhe:
- Da última vez que conversamos estavas cheia de vontade de receber uma máquina de escrever em braille.
- Sim!
- E então???
- Já a tenho, mas é muito velha, não consigo trabalhar com ela, tenho muita dificuldade!
- Então aquilo não é para ti!
- Aquilo não é para mim! Mas Sofia, diz-me uma coisa, conheces alguém a quem a possa dar?
…
Como é possível não ficar com o coração derretido
por esta menina! Não consigo expressar o sentimento que vivi ao ouvi-la
reconhecer-me não pelo facto de ser filha de alguém com quem está muito mais
familiarizada, mas sim porque me tocou no rosto e de alguma forma sentiu alguma
coisa que me distinguiu de todas as outras pessoas que já conheceu.
E a emoção de ver uma menina que apesar de não
estar satisfeita com algo que lhe foi oferecido, se lembrar que pode ser algo
de apelativo para outra pessoa e estar disposta a abdicar dessa coisa por
iniciativa própria.
Achei fantástico e ela consegue dar-me um sorriso
cada vez que me lembro de algum pormenor destas nossas pequenas conversas…
São estes pequenos momentos que nos fazem ver a
beleza que existe nas crianças, na sua inocência e na sua maneira de estar na
vida!
Gosto Muito.
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